terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Vergonha: Em meio a selva, futilidades vinham a mente de Ingrid Betancourt

          Lendo o livro de Ingrid Betancourt, encontrei na página 342, no 51° capítulo, chamado de A rede, um estranho e absurdo comentário da ex-prisioneira, após jovens guerrilheiros matarem uma cobra:


                                                                                                         Foto ilustrativa

          "Depois de tê-la matado, os jovens haviam estendido a enorme pele para secar, esticada entre varas. Ela fizera a alegria de milhares de moscas varejeiras que giravam à sua volta, atraídas pelo cheiro imundo que ela emanava. A pele ficara ao relento, enfrentando as intempéries durante semanas. Apodrecera, e eles terminaram jogando-a no buraco do lixo. Eu tinha pensado em todas as bolsas de luxo que haviam se perdido naquela operação. Eu não parava de pensar nisso e achei até obsceno ter pensado assim."
          No 52° capítulo, Venda de esperança, mais um pensamento de futilidade:


                                                                                                         Foto ilustrativa

          "Mas o Índio me deixava sonhando. Ao pronunciar a palavra "liberdade", ele abrira a caixa que eu mantinha fechada com duas voltas da chave. Não conseguia mais conter a onda de divagações que me submergia. Eu via meus filhos, meu quarto, meu cão, minha bandeja do café da manhã, as roupas passadas, o cheiro de perfume, mamãe. Eu abria a geladeira, fechava a porta dos banheiros, acendia a luz de cabeceira, usava salto alto. Como jogar tudo isso de novo para o esquecimento? Eu tinha um desejo enorme de voltar a ser eu mesma."
          Já no 54° capítulo, em A marcha interminável, a contradição:
          "Debrucei-me sobre a panela. Era mesmo macaco. Eles o tinham pelado e cortado em pedaços, mas dava para identificar os membros, braços, antebraços, coxas etc. Os músculos estavam colados aos ossos, de tanto tempo que ficaram assando, provavelmente em carvão de madeira. Não consegui comer. Eu achava que estaria me submetendo a uma experiência antropofágica."

          Pois bem, em plena selva amazônica, Ingrid Betancourt sobre forte ameaças dos guerrilheiros, conseguia pensar em bolsas de couro de cobra e até em sapatos de salto alto. Quanta futilidade! O que me espanta, foi a queda de Ingrid em meio a suas palavras, caiu em contradição. Viu uma cobra morta sendo jogada no lixo, pensou em bolsas. Quando viu carnes de macaco assadas, não quis comer dizendo que seria uma experiência antropofágica. Foi questionada por Lucho se partcipava do grupo GreenPeace. Mas o objetivo deste grupo não é preservar a fauna e flora mundial? Por quê pensou em bolsas então, quando viu uma cobra? (...) Mais um enigma não esclarecido por Ingrid Betancourt.

Em especial, esta postagem é dedicada a Bruno Wolff, meu novo seguidor.

2 comentários:

  1. Acredito que a "contradição" seja muito comum (e minimamente aceitável) na situação que ela viveu. Quando somos privados do que estamos acostumados ou necessitamos (tipo um vaso sanitário para urinar em plena avenida movimentada de SP, rs), incrivelmente não paramos de pensar e criamos para nós um pequeno inferno interior. Contudo, mesmo na necessidade, um pouco da "dignidade" e entendimento humano ainda mantem-nos lúcidos; acredito que seja o caso da negativa em comer macacos.
    Talvez o erro da autora tenha sido expressar o seu "nojo" pelo alimento com a palavra antropofágico.

    P.S. Obrigado pela lembrança e prometo fazer um comentário menor na próxima! rsrsrs

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  2. Não se limite nas palavras Everton, tem que dizer/escrever o que tem vontade. Adorei seu comentário, e acredito que o problema maior esteja realmente na palavra antropofágico. Um abraço!

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